Mitos sobre o uso de sistemas alternativos de comunicação
No texto anterior, falamos um pouco sobre a importância do trabalho fonoaudiológico para as crianças com TEA, com enfoque na intervenção precoce relacionada aos aspectos comunicativos e de linguagem, e sobre não precisarmos esperar o surgimento da fala para iniciar a intervenção, ou acreditar que esta seria a única opção de comunicação possível.
Desta forma, reforçando a ideia de que a comunicação vai muito além da fala, o mais importante não seria ajudar a criança com autismo a comunicar suas necessidades, vontades, desejos e sentimentos? Claro que sim! Esses aspectos não podem esperar! Para isso, existem maneiras alternativas de fazer essa comunicação acontecer, que irão abrir possibilidades à criança de explorar e ser compreendida pelo mundo ao seu redor, reduzindo a angústia e a frustração que acompanham as dificuldades de tentar se comunicar e não ser compreendida.
Quando pensamos em utilizar um sistema de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), não só daremos “voz” às nossas crianças que ainda não falam, como contribuiremos para o desenvolvimento de sua linguagem como um todo.
Precisamos falar de alguns MITOS sobre a CAA:
- O uso de figuras será o último recurso, se realmente a criança não desenvolver a fala: esse pensamento é um grande erro! Quanto antes iniciarmos, mais estimulamos a linguagem e maiores são as chances de a criança acompanhar o desenvolvimento e diminuir suas frustrações na hora de se comunicar.
- Existe uma idade mínima para o uso de CAA: isso não é verdade! Esse mito acompanha o anterior. É importante lembrar que seu uso precoce não irá impedir o desenvolvimento da fala, pelo contrário, ajudará a criança a desenvolver sua linguagem e comunicar seus desejos, vontades, sentimentos…
- Se a criança usar figuras ela nunca irá falar: ao contrário do que se pensa, dar ferramentas para a criança irá desenvolver a sua linguagem, facilitar a compreensão, e poderá auxiliar no desenvolvimento da linguagem oral.
- Só dá para usar se a criança tiver uma série de pré-requisitos: o uso de CAA irá ajudar a criança a desenvolver sua interação e a intenção de se comunicar, e esse é um dos seus principais objetivos. Portanto, exigir pré-requisitos da criança não faz sentido.
- Sistemas com vocalizadores (eletrônicos), são melhores do que os de imagens: esse é outro mito muito comum. Na verdade, o mais indicado é iniciar com sistemas de baixa tecnologia (imagens), antes de chegar aos sistemas de alta tecnologia (em tablets, computadores ou celulares). Isso porque esses sistemas promovem maior interação e flexibilidade de comunicação, já que o outro interlocutor é quem dará a voz à criança.
Existem diversos sistemas de CAA, que podem utilizar recursos variados, desde o material concreto, até fotos, imagens, palavras… Também existem muitos sistemas eletrônicos com vocalizadores. A escolha do sistema e sua adaptação será realizada por um fonoaudiólogo, com o apoio da equipe multidisciplinar.
Um dos sistemas que possui forte evidência científica é o PECS (Picture Exchange Communication System) – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras. Inicialmente, esse sistema foi idealizado para crianças com TEA, e depois ampliado para outras dificuldades de comunicação. O principal objetivo do PECS é tornar a comunicação o mais funcional possível, o que inclui exercitar um elemento extremamente importante, que é a iniciativa comunicativa.
O papel do fonoaudiólogo é ajudar a criança e sua família a ampliar o uso do sistema de comunicação nos diversos contextos e situações, para que a criança generalize o que aprendeu em terapia e utilize de forma natural com todas as pessoas e em todos os lugares que estiver.
Nosso foco principal deve ser dar à criança possibilidades de interagir e explorar o mundo que vão muito além da fala, porque comunicar é o que importa!

Camila Menezes Nitatori
Fonoaudióloga formada pela UNIFESP/EPM
Especialista e Desenvolvimento da Linguagem e suas alterações pela USP
Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP/EPM
Instagram: @camilanitatorifono

