Comecei a procurar um novo trabalho e percebi que mães atípicas não são bem vindas.
Sim, eu já sabia que, uma vez que virasse mãe, as clássicas perguntas sobre “quem fica com o seu filho para que você possa trabalhar” ou “quem vai leva-lo ao médico quando adoecer” passariam a aparecer.
Isso porque vivemos em uma sociedade que insiste em jogar absolutamente todas as responsabilidades de uma criança nas costas da mãe – mas prometo deixar essa conversa para um outro texto só sobre isso.
No entanto, eu comecei a notar que o buraco é ainda mais embaixo para as mães atípicas.
Eu fiz alguns testes para empresas nos últimos meses e me saí muito bem nos que exigiam conhecimento e habilidades para as funções exigidas, mas, no momento das entrevistas, acabava barrada.
E é interessante porque dava para notar a alteração de comportamento nos avaliadores no exato momento em que eu começava a falar do meu filho.
O diálogo ocorre mais ou menos assim:
Avaliador : Você tem filhos?
Eu: Sim, tenho um.
Avaliador: E qual a idade?
Eu: Três anos.
Avaliador : Hummmm (aqui o caldo já começou a desandar). E com quem ele fica para que você possa trabalhar?
Eu: Com a minha mãe. Ela passa praticamente o dia inteiro com ele.
Avaliador (começando a marcar várias coisas em um papel): Ele não vai para a escola?
Eu: Como ele é autista, achamos melhor avançar um pouco mais com as terapias antes de investir novamente na escolinha. A nossa primeira experiência não deu muito certo.
Aqui já dá para notar o rosto do recrutador se transformar. Quase consegui ler na testa dele a frase “problema se formando”. E logo aquela conversa produtiva finaliza em um rápido “a gente te liga qualquer coisa”.
Estou reproduzindo porque vi acontecer tudo do mesmo jeito várias vezes.
E o que fazer nesse caso? Por isso muitas mães acabam tentando carreira solo trabalhando por conta, já que o mercado de trabalho não dá nenhuma opção para as mulheres. Você tem que escolher entre nunca ter filhos e se dedicar apenas à carreira ou ser mãe e abandonar todos os seus projetos.
Me recuso a aceitar condições tão retrógradas.
Mulheres são incríveis e capazes de muitas coisas ao mesmo tempo. Só o fato de conseguir gerenciar a criação de uma criança no meio do caos dos dias de hoje já deveria render a todas nós alguns prêmios. Uma função no cargo de qualquer empresa acaba sendo moleza pra gente.
Sentir na pele esse desprezo dói. A sensação é que você se tornou uma imprestável e que deveria se manter no chão, no lugar onde os pés que estão te oprimindo exigem que você fique.
Eu chorei. Chorei bastante por pensar que tudo será mais difícil para mim daqui para frente.
Mas me recuso a ficar no chão. Vou me levantar quantas vezes forem preciso. E vou provar para esse mundo que sou mãe, sou mãe atípica e, ainda assim, sei entregar um trabalho incrivelmente bem feito.
Eu nasci para vencer. E meu filho segue comigo nessa jornada.
Mãe atípica e editora chefe do blog.
