Quando você pensa em comunicação, o que vem primeiro à sua mente?
Se você disse: “Falar!”, não está totalmente errado. Todos os pais criam expectativas em relação a querer ouvir seu filho falar os primeiros sons, as primeiras palavras, as primeiras frases, e por aí vai. Isso é natural para o ser humano, e a fala é uma das formas mais “fáceis” de nos fazermos entender e interagirmos com o mundo.
Mas, e se a fala demora a aparecer? Até quando eu devo esperar? Será que aquela história de que cada criança tem seu tempo é assim mesmo?
Bom, quando pensamos no desenvolvimento dito “típico”, ou seja, nos marcos que a maioria das crianças sem atraso atingem em determinada faixa etária, ainda assim existe um limite máximo para essa “espera” acontecer. Por exemplo, se as crianças falam as primeiras palavras com intenção de se comunicar por volta de 12 meses, sabemos que algumas podem iniciar aos 10 meses, enquanto outras podem iniciar até os 16 meses – mais do que isso, é um sinal de alerta de que pode existir um atraso no desenvolvimento. Assim, caso o desenvolvimento não ocorra da maneira desejada, procurar um especialista irá ajudar a buscar hipóteses para o suposto atraso, e caminhos a seguir caso o atraso seja de fato identificado.
É muito comum que um dos primeiros profissionais que as crianças com suspeita de Transtorno do Espectro Autista (TEA) passem seja o fonoaudiólogo, que geralmente irá acompanhá-las a longo prazo. Isso porque uma das características é justamente o prejuízo na comunicação, que é uma das principais ferramentas de trabalho do fonoaudiólogo.
E voltamos então à questão que nos fez refletir logo no início desse texto: O que é comunicação afinal? Só pra começar, é importante termos em mente que a comunicação vai muito além da fala. O bebê se comunica muito antes de produzir as suas primeiras palavras, com o olhar, um sorriso, e outros gestos que carregam a intenção de interagir com o outro. É importante lembrar que os aspectos não-verbais da comunicação são tão importantes quanto a fala!
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, que irá trazer prejuízos na forma como o bebê/a criança irá interagir com o outro e com o mundo, e também na maneira como irá se comunicar (e aqui contam os aspectos não-verbais também!). Algumas crianças com TEA não desenvolvem a fala no período esperado. Porém, não é possível saber ao certo se a criança irá ou não desenvolver a comunicação através da fala. Se pensarmos que a comunicação demanda a intenção de interagir com o outro, muitos outros aspectos da linguagem precisam ser trabalhados no bebê/na criança com TEA antes da fala.
Mesmo nas crianças com TEA que são verbais (ou seja, falam palavras, frases…), o fonoaudiólogo irá trabalhar a intenção e a funcionalidade da fala e dos outros aspectos da linguagem (como a habilidade de atenção compartilhada; o vocabulário receptivo e expressivo; trocas na fala se houver; elaboração de frases; estruturação sintática da língua; compreensão de inferências; habilidades pragmáticas da linguagem; habilidade de teoria da mente…).
Após essa breve reflexão, a pergunta que fica é: “Devemos então esperar o surgimento da fala?” Minha resposta aqui é um grande “Não!”. Até porque, como eu disse acima, existem diversos outros aspectos de linguagem para serem trabalhados e desenvolvidos, e que são pré-requisitos para a aquisição da fala.
Então, quais seriam as possibilidades de comunicação para uma criança que não consegue se expressar através da fala? Será que existem alternativas para esses casos?
No próximo texto, falaremos um pouco sobre Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). Fiquem ligados e até lá!

Camila Menezes Nitatori
Fonoaudióloga formada pela UNIFESP/EPM
Especialista e Desenvolvimento da Linguagem e suas alterações pela USP
Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP/EPM
Instagram: @camilanitatorifono

