Exaustão!
O sentimento é real.
Não, não significa que odiamos nossos filhos, como algumas pessoas insistem em dizer naquelas frases tão detestáveis como “Teve filho, agora aguenta!”. Filhos não devem ser “aguentados”, devem ser amados! E nós os amamos de verdade.
No entanto, somos seres humanos e ficamos cansadas. E mães atípicas entendem bem esse sentimento.
Não me entenda mal, é claro que as mães de crianças neuróticas também se sentem assim (nós mulheres sabemos bem o quanto a sociedade pode ser cruel com a carga de responsabilidades e cobranças que derrama sobre os ombros das mães).
Entretanto, é importante falar sobre o cansaço das mães atípicas, pois essa exaustão também vem carregada de culpa e medo.
Entre a correria do dia a dia para conseguir manter comida dentro de casa, levar o filho para as terapias, seguir com os treinamentos diários e ainda se mostrar ativa o suficiente para dar atenção às questões emocionais da família, as mães atípicas se sentem muito culpadas.
Todas já se sentiram assim pelo menos uma vez – ou o tempo todo.
Já se pegaram pensando no que fizeram de errado durante a gravidez, se não foi aquele copo de vinho depois do jantar, quando ainda não sabia que seu filho estava na barriga, ou se devia ter se esforçado menos em seu trabalho – vai ver foi o excesso de estresse.
Toda mãe que vê seu filho se desenvolvendo com atrasos se cobra achando que não está fazendo o suficiente, que não se entregou como deveria, que faltou estímulos.
Acredite, eu já fui cobrada de várias coisas desse tipo quando o diagnóstico do meu filho chegou e, por muito tempo, cheguei mesmo a acreditar que a culpa era minha.
Essas mães tem medo! Medo que seu filho sofra com o mundo que terá que encarar. Medo que as pessoas o magoem, o maltratem, se aproveitem de sua inocência.
Toda mãe atípica vai dormir com o coração apertado, com a mente no presente e no futuro.
Acorda já planejando tarefas de treinamento, é uma terapeuta em tempo integral não remunerada. Passa horas analisando as evoluções e onde as falhas estão ocorrendo, sempre buscando aprender mais, entendendo coisas que até os médicos se atrapalham muitas vezes.
Tenta sempre manter seu filho bem, ativo e feliz.
Só que todo esse esforço cobra um preço muito alto. Não sobra tempo para ela e é daí que a exaustão mais forte vem.
Quando se olha no espelho mal se reconhece. O cabelo está desarrumado, as roupas manchadas, as olheiras são tão profundas que praticamente ocupam o lugar de seus olhos.
Ela adoece. Talvez não do corpo, mas da cabeça. Aos poucos vai se perdendo como pessoa e seus sonhos correm o risco de sumir junto com a sua vivacidade. Passam a viver única e simplesmente pelo poder do sorriso de seus filhos.
Viver desses sorrisos é super importante, mas deveria ser o combustível para nos ajudar a pegar impulso e não o único pilar que segura a nossa estrutura.
Mãe atípica, você que está lendo, saiba que não é a única que se sente assim, nessa tensa batalha interna.
Busque sua rede de apoio, seja ela qual for – familiares, amigos, grupos -, peça ajuda, converse, desabafe. Lembre-se que, infelizmente, o TEA ainda não é de conhecimento de todos e, por não ter sempre uma característica física que ajude as pessoas a identificarem a questão de cara, ainda teremos muito que ajudar a causa a se expandir.
Leve conhecimento para aqueles que não entendem o que está acontecendo com seu filho – desde que sejam educados e estejam dispostos a escutar e aprender. Não foram poucas as pessoas que conheci em meu caminho que realmente ficaram interessadas em entender melhor a condição do meu filho e me ajudaram a replicar ainda mais.
Se ainda assim a carga estiver muito pesada, procure imediatamente ajuda profissional!! Existem opções de tratamento, até mesmo gratuitas, e eu pretendo falar sobre isso mais para frente.
Seja qual for a opção que escolher, o mais importante é, NÃO SE ISOLE!
Você não está sozinha.
Haverá críticas? Eu mentiria se dissesse que não.
Mas te adianto que as críticas sempre partem da falta de informação e do preconceito que acaba ficando ligado com ela. Por isso é tão importante que esse assunto seja discutido e falado aos quatro ventos.
Não tenha medo. O mundo pode ser assustador, mas também há gente boa vivendo nele.
Vamos ensinar aos pequenos a reconhecer essas pessoas e se aproximar delas, afinal, também não podemos isolá-los.
Você se sente exausta? Precisa conversar?
Eu sei como você se sente e estou por aqui se precisar.
Se cuida!
Crédito da imagem: Ketut Subiyanto baixada em Pexels
Mãe atípica e editora chefe do blog.
